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Agrotóxicos nos alimentos: como agem e o que fazer para ter uma alimentação realmente saudável

Na Coluna desta semana, Jamar Tejada explicou detalhadamente a função dos agrotóxicos, seus malefícios no organismo humano e como diminuir suas quantidades em frutas, legumes e verduras antes de ingerí-las

Entenda como os agrotóxicos atuam e o quanto fazem mal à nossa saúde – Freepik

Aí você que se acha o rei ou rainha natureba, que não vive sem um matinho no prato, que mata a sede com suco verde e que quando pensa em ingerir um doce só se for uma batata doce, vive com dores de cabeça, vertigens, falta de apetite, constipado, com ansiedade extrema e sofre para dormir! Você que segue a cartilha do “como ser saudável” sem abreviações sofre com tudo isso, enquanto a criatura que não tem dó do seu corpo, que se entope de farinha refinada, refrigerantes, embutidos e tantos outros venenos parece estar sempre bem! Aí você atribui todos esses sintomas a alguma doença, herança genética, ou até mesmo ao estresse do dia a dia. Sim, todos esses sintomas podem ser associados a suas desconfianças, mas muitas vezes, são as únicas respostas da intoxicação por agrotóxicos.

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Os agrotóxicos são tão destrutivos que surgiram com o propósito de funcionarem como arma química na Segunda Guerra Mundial, depois o produto passou a ser utilizado como defensivo agrícola, ficando conhecido também como pesticida, praguicida ou produto fitossanitário, mas na nossa legislação o termo utilizado é agrotóxico.

Por volta dos anos 50 acontecia a “Revolução Verde”, quando a produção agrícola sofreu muitas mudanças, sendo modernizado por meio de pesquisas sobre sementes, fertilização do solo e utilização de máquinas no campo com objetivo de potencializar a produtividade envolvendo o amplo uso desse veneno, a fim de controlar pragas afim de não ter perdas no processo agrícola. A palavra é produção, custe o que custar!

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Segundo a Lei n° 7.802/89, “agrotóxicos são os produtos químicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da fauna ou flora, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento“. Também são considerados defensivos agrícolas ou reguladores de crescimento, quando na verdade são desreguladores do crescimento humano!

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Uma pesquisa realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) constatou a presença de organofosforados em mais da metade das amostras de alimentos testadas. Esses tipos de agrotóxicos mais comuns que são usados como acaricidas, fungicidas, bactericidas e inseticidas, entre outros, podem causar vários efeitos colaterais, entre eles comprometimento do sistema nervoso e problemas cardiorrespiratórios, efeitos que podem surgir a curto, médio e longo prazo. O estudo destaca também que doenças crônicas não transmissíveis e que foram desencadeadas pela contaminação por agrotóxicos, são um grande problema de saúde pública nos nossos dias.

Agrotóxicos x Brasil

Quer se assustar ainda mais? Segundo a Sindiveg (Associação dos Produtores de Pesticidas), o Brasil é o país que mais faz uso de agrotóxicos no mundo, mais de 1 bilhão de litros por ano, fato que até tem motivo, já que nosso país é o terceiro maior produtor mundial de alimentos e nossos agricultores enfrentam um solo quase sempre pobre e o clima tropical, o que faz com que aumente todos os tipos de pragas.

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Nos últimos 40 anos, o consumo de agrotóxicos cresceu 800%, sendo que a área plantada aumentou muito menos, 78% e isso também com o uso de produtos que já foram banidos em outros países. Um levantamento feito pela USP em 2017 constatou que, até então, 149 dos 504 pesticidas liberados no Brasil eram proibidos na Europa, além disso os casos de intoxicação aguda por pesticidas quase dobraram na última década, chegando a 14 mil por ano.  

Os principais agrotóxicos usados aqui no Brasil são derivados do glifosato, um composto organofosforado classificado como pouco tóxico e não irritante (Classe 4), e descrito como um herbicida capaz de se difundir por todo o interior da planta. Inicialmente, seu uso na agricultura era restrito e limitado, uma vez que, além de atuar sobre as ervas daninhas, este composto também eliminava o produto a ser cultivado. Porém, com o desenvolvimento de produtos geneticamente modificados, foi possível obter sementes transgênicas resistentes a essa classe de agrotóxicos – aí o porquê dos transgênicos, assunto mais que polêmico.

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Como os organofosforados são moléculas lipossolúveis, no homem pode atravessar a barreira hematoencefálica e comprometer o sistema nervoso central (SNC), resultando na perda de sinapses e morte de células neurais. Logo a exposição crônica a baixos níveis de agrotóxicos, tem sido associada a uma série de alterações neurológicas, como prejuízos cognitivos e demência, como também está associada ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como as doenças de Parkinson e Alzheimer. Apesar de o glifosato ser classificado como um agrotóxico de baixo grau de toxicidade, evidências recentes vêm demonstrando seu potencial carcinogênico e por isso cada vez mais países como o Reino Unido tem proibido o uso desta substância.

Você deve estar se perguntando: Devo então ter medo de consumir verduras, frutas e legumes?

Não, essa não é a justificativa pra você deixar de comer seus verdinhos! A comida que chega à sua mesa contém uma quantidade muito pequena. O limite, dependendo do pesticida, costuma ficar entre 0,01 a 0,5 miligrama a cada quilo de alimento. Esse número se chama Ingestão Diária Aceitável (IDA), e é determinado por meio de testes em ratinhos de laboratório que recebem uma dose de agrotóxico, todo dia, ao longo de toda a vida e são testados vários níveis até chegar a um que não causa danos à saúde dos mesmos, como maior incidência de câncer, desequilíbrios hormonais e alterações na expectativa de vida.

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Então esse valor  é dividido por 100, para se ter uma grande margem de segurança, e com isso chegam à IDA: a quantidade de resíduos de agrotóxico que um ser humano pode ingerir diariamente, ao longo de toda a vida sem colocar sua saúde em risco. A partir daí, a Anvisa determina quantos resíduos de agrotóxico a comida pode ter. O número é calculado de acordo com o consumo médio de cada alimento. Segundo dados do IBGE, cada brasileiro ingere em média 160 g de arroz e 180 g de feijão por dia, por exemplo. Mas como há uma margem de segurança de 100 vezes, você pode comer muito determinado alimento sem correr risco, desde que os alimentos obedeçam aos limites de resíduo de agrotóxico. 

No Brasil, desde 2001, a Anvisa realiza um estudo, o PARA (Programa de Análise de Resíduos em Alimentos), que testa mais de 10 mil amostras de alimentos em todas as regiões do país para ver se estão respeitando as normas, ou seja, se contêm resíduos de agrotóxicos na quantidade permitida. E você sabe quais alimentos contêm mais agrotóxicos? Vamos ao ranking problemático, da quantidade de amostras contaminadas por agrotóxicos:

1º pimentão – 91,8%
2º morango – 63,4%
3º pepino – 57,4%
4º alface – 54,2%
5º cenoura – 49,6%
6º abacaxi – 32,8%
7º beterraba – 32,6%
8º couve – 31,9%
9º mamão – 34,4%
10º tomate – 16,3%

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Mas se tanto agrotóxico é usado, como ele não chega a ser tóxico?

Depois da aplicação nas plantas, os agrotóxicos são degradados por processos químico-físicos como a ação do sol, temperatura ou atividade microbiana. A planta faz a metabolização quebrando as moléculas e as transformando em compostos que são inofensivos para ela, mas letais para insetos, ervas-daninhas, fungos e demais pragas. Se esse processo não acontecesse, a planta morreria envenenada. Os micro-organismos presentes no solo também metabolizam os agrotóxicos, num processo conhecido como mineralização e até o sol que bate sobre as plantas ajuda a decompô-los. A Anvisa determina um período de segurança, ou seja, um prazo obrigatório entre a aplicação do agrotóxico e a colheita. Ele varia conforme o pesticida e o alimento, mas geralmente por um período de 15 a 30 dias, tempo para que a planta, os micróbios e o sol tenham tempo de decompor os agrotóxicos.

O problema é que embora a Anvisa monitore os níveis de resíduos de agrotóxicos presentes nos vegetais, já foi demonstrado que muito destes se encontram acima do valor permitido em 23% dos alimentos pesquisados, sendo o pimentão, a cenoura e o tomate os alimentos que apresentaram maiores concentrações de agrotóxicos. Além disso, muitas vezes é observada a presença de agrotóxicos cuja utilização é proibida no país, sobretudo devido ao seu grau elevado de toxicidade.

O que fazer pra reduzir ainda quaisquer resíduos?

A alternativa mais efetiva para evitar os riscos do agrotóxico ao ser humano e ao meio ambiente, obviamente é evitá-los, mas como os produtos orgânicos infelizmente não são acessíveis a grande maioria, existem algumas técnicas bem simples que nos salvam. Um estudo norte-americano de 2019 divulgado pela revista científica Journal of Agricultural and Food Chemistry comprovou que bicarbonato de sódio é umas das melhores alternativas.

Quando comparado a outros dois métodos de limpeza, usando a água de torneira ou alvejante a base de cloro, o bicarbonato de sódio se mostrou muito mais eficaz. No estudo os pesquisadores expuseram maçãs orgânicas aos agrotóxicos do tipo tiabendazol ou phosmet, comumente utilizados, durante 24h. O que se constatou foi que com 10 mg/ml do bicarbonato em uma solução aquosa, entre 12 a 15 minutos era tempo suficiente para remover completamente qualquer resíduo desses agrotóxicos que estivessem na superfície de maçã. 

Em outros estudos realizados com outras substâncias também se chegaram a bons resultados, o permanganato de potássio, por exemplo, foi eficiente para remover o pesticida do tipo chlorpyrifos, com 64,8% de degradação mas a fervura apresentou o melhor resultado global dos agrotóxicos, retirando por exemplo 66% de Lindano.

A questão é, quanto mais penetram nas verduras os pesticidas, menor a efetividade desse método. Para uma aplicação prática, lavar as frutas, legumes e verduras com bicarbonato de sódio pode reduzir a maior parte das substâncias tóxicas na superfície e quando esses contem cascas, a remoção das mesmas é o método mais efetivo. O problema é que na casca se encontram na maioria das vezes  os componentes bioativos da fruta, logo a aplicação da solução ainda é a melhor opção.

Escolha também alimentos de “época”, como as frutas de cada estação. Há um motivo para isso, pois em média esses alimentos recebem uma carga menor de agroquímicos. Por exemplo, a ameixa é uma fruta do verão, enquanto o caqui é do inverno. A carga de agroquímicos na ameixa, no verão, portanto, deve ser maior do que no inverno.

De acordo com a Anvisa, a recomendação é que se opte por alimentos que tenham a identificação do produtor no rótulo através de um QR Code. Essas embalagens permitem saber a origem do alimento e quais pesticidas foram usados. Implementada em 2018, essa identificação faz parte de uma legislação de rastreabilidade do Ministério da Agricultura, e que todos os produtores de frutas e hortaliças deverão seguir até agosto desse ano.

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Então anote aí a mistura:

  • 1 litro de água filtrada;
  • 1 colher de sopa de bicarbonato de sódio ou 1 colher de café de hipoclorito (água sanitária) ou 2 colheres de vinagre;
  • Deixar frutas, hortaliças e legumes de molho por pelo menos 15 minutos;
  • Lavar em água corrente e armazenar.

Para frutas e legumes com casca, recomenda-se lavar o alimento com uma esponja nova com detergente! 

Embora assuste, saiba que apesar dos agrotóxicos utilizados nas frutas, legumes e verduras, esses são essenciais a nossa saúde e jamais devem, por medo, serem substituídos por uma dieta industrializada. A frase: “Descasque mais, desembrulhe menos” é uma regra que deveria ser respeitada e  nunca fez tanto sentido numa sociedade tão doente.

JAMAR TEJADA


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