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A vaca é culpada? Entenda como animais ruminantes colaboram com o efeito estufa e as possíveis soluções

Na coluna desta semana, Jamar Tejada explicou por que a grande população de bovinos pode acentuar o efeito estufa no planeta e explicou como acontece a bioquímica do gás metano nestes animais

Entenda como animais ruminantes afetam o meio ambiente – Unsplash/ Jakob Cotton

Cada vez mais pessoas aderem ao veganismo. Ser vegano, acredito eu que num futuro não muito distante, venha a se tornar condição sine qua non para um planeta menos tóxico, ou pelo menos mais respirável!

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Mas qual a relação entre poluição e veganismo?

Primeiramente precisamos falar sobre o metano (CH4), um tipo de gás que não possui cheiro e, quando adicionado ao ar, é altamente explosivo. Conhecido por suas propriedades energéticas e por ser proveniente das vacas, dentre outras fontes, o gás é prejudicial à saúde humana. Composto por carbono e hidrogênio, o gás é um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.

O metano é cerca de 30 vezes mais eficiente na captura do calor radiante do sol do que o dióxido de carbono. Numa escala de tempo de cerca de um século poderá haver mais CO₂ na atmosfera do que o metano, mas, isoladamente, o metano é o gás de efeito estufa mais destrutivo.

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A flatulência das vacas, que tem responsabilidade maior na emissão de gases do efeito estufa do que a quantidade de gás emitida pelo seu carro, acredite nisso!  

A digestão dos bovinos faz com que seja lançado gás metano (CH₄) na atmosfera. Assim como o gás carbônico (CO₂), resultado da queima de combustíveis fósseis. O metano acelera o processo do efeito estufa, o que faz com que a temperatura no planeta aumente a cada ano. Sacou a relação?

Mas como acontece a bioquímica do metano nos ruminantes?

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A produção de metano é parte do processo digestivo normal dos herbívoros ruminantes e ocorre em parte do seu estômago compartimentado (rúmen e retículo). A fermentação do material vegetal (pasto) ingerido no rúmen é um processo anaeróbio efetuado pela população microbiana ruminal, em que os carboidratos da celulose são convertidos em ácidos graxos de cadeia curta (ácido acético, ácido propiônico e butírico, principalmente), os quais são utilizados pelo animal como fonte de energia.

As bactérias metanogênicas (mais recentemente denominadas de Archea) que estão presentes no rúmen obtêm energia para seu crescimento utilizando H₂ para reduzir CO₂ e formar metano (CH₄), que é então exalado para a atmosfera. 

A vaca é culpada?

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No caso de herbívoros não ruminantes (cavalos, mulas e asnos), o metano também é produzido durante a decomposição digestiva dos compostos ingeridos no ceco, mas a ausência de rúmen nestas espécies previne a geração de altas quantidades desse gás como ocorre nos ruminantes.

A contribuição de animais monogástricos às emissões globais de metano é considerada não significativa, representando apenas cerca de 5% das emissões totais de metano por animais domésticos e silvestres.

A produção de metano no rúmen é menor em animais cujas dietas são balanceadas e constituídas de alimentos menos fibrosos (concentrados) ou com fibras mais digestíveis. A emissão de gases em forma de metano varia entre 4 a 12% da energia bruta do alimento ingerido, sendo em média de 8% dependendo das características da dieta, ou seja, a qualidade do pasto influencia diretamente a emissão de gases.

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Como a produção de metano varia com a quantidade e qualidade da energia do alimento digerido, a existência de várias modalidades e condições de sistemas de produção de animais domésticos implica em diferentes percentuais de emissão de metano. Geralmente, quanto maior o consumo de alimento, maior será a emissão de metano pelo animal e quanto melhor a qualidade desta dieta, menor a produção de metano por unidade de alimento ingerido.

O consumo de alimento, por sua vez, está relacionado ao tamanho do animal, condições ambientais, taxa de crescimento e produção (leite, carne, lã e gestação). A composição do dejeto é determinada pela dieta animal, de modo que quanto maior o conteúdo de energia e a digestibilidade do alimento, maior a capacidade de produção de metano.

Um gado alimentado com uma dieta de alta qualidade produz um dejeto altamente biodegradável, com maior potencial de gerar metano e óxido nitroso, ao passo que um gado alimentado com uma dieta mais fibrosa produzirá um dejeto menos biodegradável, contendo material orgânico mais complexo, tal como celulose, hemicelulose e lignina.

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Esta segunda situação estaria mais associada ao gado criado a pasto em condições tropicais. As maiores emissões de metano proveniente de dejetos animais estão associadas a animais criados sob manejo intensivo. Esse gás produzido, uma vez armazenado, pode ser utilizado para gerar energia para o próprio sistema de produção de leite, não gerando impacto ambiental. 

Mas a população de bovinos é realmente preocupante?

Com base nos dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em relação às projeções para o próximo ano, os Estados Unidos seguirão como o principal produtor mundial de carne bovina, respondendo por 20% do volume global, seguido pelo Brasil (com 17%) e pela União Europeia (12,5%).

O rebanho mundial de bovinos deve chegar a pouco mais de 1 bilhão de cabeças, o que significará o maior patamar desde 2009 e um avanço de 0,7% (ou 6,4 milhões de cabeças) em relação ao plantel registrado em 2020.

Segundo o relatório do CiCarne, sete países concentram 90% do rebanho mundial: Índia, Brasil, Estados Unidos, China, União Europeia, Argentina e Austrália. Sozinho, o Brasil responde por 24,7% do rebanho mundial, atrás somente da Índia, com 30,6% de participação.

Imagine só se o rebanho apenas de bovinos alcançasse 1 bilhão de cabeças e cada um deles expulsando mais de 30 a 50 galões de metano por dia.

Normalmente, pensamos que os “puns” são os maiores responsáveis pela emissão, mas os arrotos são, na verdade, a principal fonte de metano produzido pelo gado, representando 95% do problema dos gases com efeito estufa, tem noção do problema? 

Existe solução? 

A solução parece bem simples: diminuirmos a ingestão de carne e derivados, mas isso não parece ser uma solução fácil para seres carnívoros como nós. Logo algumas melhorias podem ser feitas para diminuir esse impacto, como o aumento de plantio de árvores no meio do pasto, as árvores ajudam a melhorar o ar, porque aumentam a quantidade de oxigênio (O₂); mas o que vemos é bem pelo contrário, um aumento no desmatamento para aumentar a área de pastagem, resultando num solo mais pobre, com pior qualidade do pasto e logo mais metano no ar, um efeito cascata já perceberam?

Na Inglaterra foi criado um aparelho que consegue transformar o gás metano que existe no arroto da vaca em água, em vez de liberá-lo no ar. Assim, ele deixa de contribuir para o efeito estufa. A máscara consegue captar 90% do metano que sai da boca e das narinas do gado, segundo a empresa inglesa Zelp, que a desenvolveu. As vendas devem começar no ano que vem.

Depois de oito anos de pesquisa, o cientista Maik Kindermann, líder de pesquisa e desenvolvimento da multinacional holandesa DSM, de nutrição animal e humana, conseguiu criar uma molécula que diminui em 30% a emissão de gases das vacas e bois.

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O pesquisador passou um bom tempo testando algumas moléculas, naturalmente presentes no organismo do gado, que se ligam a enzimas que produzem a flatulência do rebanho e nosso país foi o primeiro a autorizar o uso do Bovaer (3-NOP), sem trazer nenhum risco à produtividade dos animais. No entanto, tecnologias e manejos que promovam a eficiência produtiva e reprodutiva têm relação direta com a diminuição da eliminação de gases de efeito estufa.

Uma vaca mais produtiva, embora possa eliminar mais metano por dia, dilui sua emissão por litro de leite produzido. Ou seja, uma vaca com produção de 40 litros de leite por dia elimina mais metano do que uma vaca de 20 litros, porém a emissão por litro de leite é menor. A mesma comparação pode ser feita entre uma vaca com 20 litros e uma vaca seca.

Uma colher de chá do aditivo ao dia inibe a enzima que ativa a produção do gás metano no estômago do animal, com efeito imediato e, se o uso for interrompido, a emissão de gases é retomada integralmente.

Segundo o fabricante desse suplemento:

– Alimentar uma vaca com Bovaer® economiza o equivalente a 127.000 cargas de smartphone.
– Alimentar três vacas com Bovaer® equivale a tirar um carro de passeio das ruas.
– Alimentar um milhão de vacas com Bovaer® é como plantar uma floresta de 45 milhões de árvores.

Pessoalmente não acredito que esse suplemento ou mesmo a máscara serão a solução, até porque pode haver uma má interpretação de que as vacas não acarretem diretamente resposta quanto ao efeito estufa, o que poderia levar a um maior consumo de carne e logo maior necessidade de área de pastagem, que responde em mais desmatamento, diminuiria metano, mas aumentaria gás carbônico.

Será que a natureza não está nos deixando uma mensagem muito clara?  A ganância insaciável é um dos tristes fenômenos que apressam a autodestruição do homem
 

JAMAR TEJADA


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